Caro professor

Carolina Condé
3 min readOct 27, 2020

--

Caro professor,

Essa carta nunca vai chegar até você, mas eu preciso colocar meus fantasmas para fora. Eu espero que você esteja bem. Não porque eu virei uma pessoa gratiluz e que quer as pessoas bem para o mundo melhorar, mas porque eu realmente espero que você esteja bem, não sei… acho que cansei de desejar e esperar que você esteja mal. Descobri por esses tempos que desejar mal ao outro faz mais mal a mim do que ao outro mesmo… Você nunca vai ler meus pensamentos. Então eu só espero que você esteja bem.

Eu querer que você esteja bem, contudo, não me impede de querer falar algumas verdades. Minhas verdades, que podem ser bem diferentes das suas e da sua versão da história, mas ainda assim, minhas verdades porque eu as vivi e convivo, até hoje, com as consequências delas.

Caro professor, eu espero que você esteja bem, mas eu quero que você saiba o quanto você me fez, e ainda me faz, mal. As suas palavras e o seu jeito de ser, disfarçadas de preocupação e de tentativa de extrair o melhor de mim (suas palavras), cravaram as unhas em mim e deixaram marcas e cicatrizes expostas na minha pele. De diversas formas. Eu engordei mais de 15 kg, eu perdi cabelo e ganhei entradas, eu perdi cílios e criei aversão psicológica e física, durante muito tempo, do meu próprio trabalho e do tema que me era tanto querido. Eu fiquei anos sem conseguir ler um texto acadêmico e hoje eu preciso fazer um esforço gigante para conseguir fazê-lo. Eu fiquei noites sem dormir, em outras meu sono era agitado e eu não descansava, o som do seu nome até hoje causa choques de adrenalina no meu corpo… Mas isso tudo não é nada perto das feridas que você deixou dentro de mim. Você me quebrou de uma forma, que até buscar outra área, começar a estudar outra coisa, eu fiz. Eu quis me desligar do mundo e das coisas que me movem desde que eu me reconheço como ser pensante. Eu quis me desligar de mim para poder superar e esquecer todo o mal que você me fez.

O problema todo é que esse ‘eu’, por mais que eu tenha tentado, não vai embora. Por isso, hoje, eu estou aqui. Eu estou aqui não porque eu preciso da sua permissão para seguir em frente e ser o que eu sou, independente de você gostar ou não, mas porque eu preciso me livrar do peso da nulidade que você me colocou. Você me fez acreditar que eu sou nada, que muito além de capacidade, me falta inteligência para ser o que eu quero ser. Você me fez acreditar que me mover por uma paixão era errado, que a indignação não poderia ser o meu combustível e que eu deveria, assim como todos aqueles que você admira, apenas ser um ser “contante” da realidade e não uma questionadora dela.

O problema, professor, é que questionar e me indignar é o que me move desde sempre. Você fez eu me odiar porque eu não era o tipo de pessoa que você julgava correta para aquele trabalho… Eu tinha paixão demais, fogo demais, e você não queria nem brasa.

Esse meu manifesto de libertação, professor, é apenas para dizer que, independente da sua permissão, eu vou ser o que eu nasci para ser. Eu entendo você não me entender e não me aceitar, mas eu nunca mais vou permitir você me anular.

--

--

Carolina Condé

Aqui eu transformo meus fantasmas em textos na esperança que eles façam sentido.