Carolina Condé
2 min readAug 5, 2020

Eu não sou uma entendedora de signos para dizer se algo é certo ou errado, mas sempre me incomodou muito como as pessoas caracterizam cancerianos como aqueles que vivem no passado. Acho que isso acontece porque, da maneira como as pessoas colocam, a impressão que dá é que, se dependesse de nós cancerianos, nós viveríamos presos, num looping eterno, em um momento que a gente considera bom. Pode ser culpa da minha vênus em gêmeos, mas eu passaria a odiar tal momento se eu o revivesse para sempre.

A ideia de viver no (ou do) passado para mim, não tem a ver com reviver o momento, mas sim reviver emoções. Esses dias eu me deparei com a minha cópia de Revolução dos Bichos, de George Orwell, um dos livros mais incríveis que eu já li, não só pela estória, mas por tudo que ele me remete. Eu me lembro do contexto no qual eu li o livro: era 2001 e as professoras de história e literatura (finalmente) decidiram casar as disciplinas — a gente tava estudando revolução russa em história, então iríamos ler revolução dos bichos em literatura. Eu me lembro do dia que eu comprei o livro: era um sábado de manhã e saímos todos de casa para dar uma volta, passamos numa livraria e meu pai comprou o livro pra mim. Eu me lembro dele todo animado me falando do livro e dizendo que se eu gostasse ele me daria outro livro do autor — e ele me contou tudo que ele sentiu ao ler 1984. Eu me lembro também de tudo que eu sentia ao ler o livro — que foi lindo inteiro na tarde desse mesmo sábado, com direito a um fichamento incrível (o que eu meio que me arrependo, queria ler as descobertas da Carol de 13/14 anos nos cantinhos das folhas). Eu me lembro das conversas que tive com meu pai quando eu terminei o livro e dele chegando segunda-feira com um exemplar de 1984 para eu ler.

Só de me lembrar dessas histórias, meu coração se aquece. São lembranças de momentos que não voltam sim, mas são também lembranças se sensações e daquela felicidade genuína que a gente encontra apenas nos pequenos momentos. Se isso é viver no/do passad, se ser canceriana é isso, pois então eu abraço e visto a carapuça sem problema algum, sentindo muito por aqueles que não podem viver o mesmo.

Carolina Condé

Aqui eu transformo meus fantasmas em textos na esperança que eles façam sentido.